No final de 1998, ganhava força um burburinho sobre as privatizações das empresas de telecomunicações no país e a quantidade de suecos e “gringos” que chegavam em nosso escritório aumentava. A toda hora havia alguém conversando em inglês ao meu lado, percebi que os projetos de rede celular no Brasil explodiriam em breve e eu precisava saber me virar no idioma caso quisesse crescer lá dentro. Estava para tirar minhas primeiras férias como efetivo na Ericsson e não tive dúvidas: decidi fazer um intercâmbio nos Estados Unidos para aprimorar meu inglês.

O Rogério me apoiou, nos programamos e fui no começo de 1999. Emendei com o feriado de Carnaval e fiquei cerca de seis semanas no Alabama. Escolhi um destino bem atípico de propósito, com o intuito de ficar longe de brasileiros e ser obrigado a falar somente em inglês. Nas minhas pesquisas, estive numa feira de intercâmbio na Avenida Paulista e notei que os principais destinos dos brasileiros eram a Flórida ou San Diego e San Francisco, na Califórnia. Entre os estandes das mais variadas universidades americanas, entretanto, vi uma banquinha da Universidade do Alabama com um homem sozinho sentado à espera de visitantes. Pedi-lhe informações e ele rapidamente me conquistou dizendo que lá, além de ser mais barato, praticamente não havia brasileiros. Seria perfeito, pensei, pois meu objetivo de fato não era fazer turismo. Tinha certeza que voltaria para os Estados Unidos no futuro para essa finalidade.

Paguei o pacote com um dinheirinho que eu vinha juntando desde a época do estágio, a princípio, pensando em comprar um carro. Porém, meu pai me emprestava o dele e na época concluí que investir no Inglês seria mais vantajoso.

Não fiz isso, entretanto, sem antes levar um susto: um pouco antes da viagem, cada dólar custava um real, mas, ao chegar na universidade, soube que o então presidente Fernando Henrique Cardoso tinha promovido uma mudança econômica e o dólar passou a custar dois reais. Meu dinheiro tinha ficado numa conta bancária e, da noite para o dia, minhas reservas caíram pela metade. Eu não sabia da mudança e liguei pro meu pai desesperado:

— Pai, fui roubado! Eu tinha 4 mil dólares no banco e agora tenho só 2 mil!

Ele então me falou da notícia e explicou que o real tinha caído pela metade. Ainda se ofereceu para me ajudar. Disse que, se eu precisasse, ele me depositava mais. Contudo, não precisei, consegui pagar o curso e economizei bastante durante a viagem. Deixei de ter algumas regalias, mas no fim das contas o dinheiro deu certinho.

Apesar de ser num lugar meio “caipira” dos Estados Unidos, o campus universitário era animal, a começar pelo time de futebol, que era forte, e o estádio era gigante. A biblioteca também ficava em um prédio imenso e, para completar, eu me divertia com o sistema de transporte interno dentro do campus: bastava ligar que chegava um carro que transitava entre os dormitórios para transportar os alunos, tudo de graça. A infraestrutura era inacreditável.

Fiquei tão encantado com a viagem e a infraestrutura da universidade que pensei em voltar para estudar lá um dia. Porém, na minha cabeça eu estava decidido a fazer a carreira na empresa e acabei não fazendo isso — não naquela ocasião e não nos EUA, pois mais tarde acabei ingressando num MBA na Suécia.

Eu dividia o dormitório na universidade com um americano chamado Carl, um homem negro e forte. Ficamos amigos, ele fazia faculdade de música e tinha um piano elétrico. Enquanto ele colocava o fone e tocava, eu sentava do outro lado e estudava inglês. A amizade com com ele me forçou a treinar bastante o inglês. Certo dia,porém, ele me chamou pra jantar com os amigos dele e eu não entendi praticamente nada que os caras falavam entre eles. Ainda havia muito a ser aprimorado!

Obviamente que também vivi momentos de lazer. Foi minha primeira viagem de avião na vida e, já naquela época, fiquei deslumbrado ao pegar o voo: “De Itaúna para o mundo”, pensava. Eita trem bão, sô! Vivi experiências incríveis ao conhecer pessoas de vários lugares do mundo. Além dos americanos, fiz amizade com um pessoal de Camarões e com dois japoneses que, mais tarde, vieram conhecer o Brasil e mostrei São Paulo pra eles.

E o mais surpreendente de tudo: foi nessa viagem que conheci a Caroline, minha primeira namorada. Passei uns dias num albergue em Atlanta, cidade que estava curioso para conhecer porque lá tinha acontecido as Olimpíadas de 1996. Um dia, eu tomava um café na cozinha da acomodação quando vi chegar uma moça morena alta, cuja beleza me chamou a atenção. Engoli seco um donuts que tinha acabado de começar a comer, pois eles deixavam numa caixa para os hóspedes pegarem e comerem à vontade. Uma etiqueta da antiga Varig na mala da moça, porém, me fez tomar coragem para me aproximar. Seria brasileira? Era. Disse-me que também tinha ido fazer um curso de inglês, mas na Universidade da Georgia. Ficamos amigos e passamos um dia juntos em Atlanta mas, quando voltei para São Paulo, escrevi para ela, nos encontramos e namoramos por quase dois anos.

A viagem de intercâmbio foi uma das melhores decisões que tomei em minha vida, pois isso me abriu portas para crescer na Ericsson e ir para a Suécia futuramente. Na volta, eu era um dos poucos na área de Logística que falava Inglês, o que me inseriu em vários projetos e, principalmente, dois anos mais tarde, me deu a chance de fazer a já relatada viagem à fábrica da Suécia, aos 21 anos. Por isso, sempre digo a qualquer pessoa que saber inglês é mais importante que ter diploma de faculdade e, hoje em dia, penso que falar mandarim é ganhar uma vantagem competitiva tão grande quanto a minha com a língua inglesa há 20 anos.