Na última semana do MBA, tivemos uma aula de imersão em que os integrantes dos grupos davam feedbacks uns para os outros. Nesse exercício, recebi retorno duro de meus colegas sobre meu comportamento nos trabalhos em grupo. Disseram que eu cobrava muito e queria impor minhas ideias. Um dos caras falou:

“O projeto foi bom, mas não tive orgulho dele porque as opiniões eram só suas, então, foi você quem foi bem, parabéns pra você!”

Para piorar, levei essa sessão de retornos muito mal e comecei a retrucar. Ao final, o professor me chamou para conversar. Perguntou-me como me senti e falei que tinha ficado chateado, não imaginava que houvesse sido tão centralizador assim, mas que o objetivo tinha sido alcançado. Ele então me falou uma frase que só fui entender cerca de dez anos depois:

“Você tem que tomar cuidado porque esse é um grupo que você nunca mais vai trabalhar junto. Se você estivesse numa empresa e precisasse continuar trabalhando com seus funcionários, por mais que o resultado tenha sido alcançado, eles te trariam problemas depois. Você não teria as pessoas à sua volta para continuar a jornada com você”

Só amadureci verdadeiramente a respeito desse ensinamento a duras penas, quando já estava na Philips e a vida me mostrou o quão importante é atentar-se para a relação com pessoas e ter inteligência emocional — conto a história em questão na próxima parte do livro. Descobri que não é o bastante o resultado ser excelente se ninguém mais estiver engajado para seguir com você depois.

Passei muitos anos da minha carreira sem dar importância para o desenvolvimento humano. Eu focava no resultado e nem sempre tinha empatia com os demais. Conflitos de interesses são corriqueiros nas empresas. Enquanto o cara de finanças não quer estoque porque é dinheiro parado, por exemplo, o vendedor briga para que haja e possa entregar a mercadoria na hora para o cliente. Sem inteligência emocional, você pode acabar levando essas demandas opostas para o pessoal.

Enfrentei esse conflito futuramente em várias ocasiões. Aprendi que realmente não adianta focar no resultado de curto prazo, esmagar e tirar tudo do time, entregar e no dia seguinte ninguém mais querer trabalhar com você.

Às vezes temos que ceder um pouco no resultado para trazer as pessoas de volta, envolvê-las em um time engajado, mesmo que você não concorde 100% com a visão do time. Às vezes você tem que ceder e entender que, mesmo se aquilo for errado, o próprio time vai ver e vai corrigir, aquilo desenvolve o trabalho em equipe, não é só um líder que tem que falar como que é. Não adianta você falar pro seu filho: “Não corre que você vai cair”. Ele vai correr e ele vai cair. Você tem que falar: “Corre, mas cuidado, e, na hora que você cair, tô aqui do seu lado”, esse é o papel do líder em alguns momentos.

No momento no MBA, entretanto, não levei isso em consideração. Para mim o importante era o projeto, eu tinha que trazer o melhor resultado e não estava nem aí para o grupo, “eu nunca vou trabalhar com eles mesmo”, pensava.
Essa postura provavelmente vinha do meu histórico de ter saído de Itaúna e estudado em uma universidade pouco conhecida. Eu considerava todo mundo do MBA muito bom e queria ver se eu também era — talvez como uma ferramenta de defesa por não me sentir tão bom. No fundo, era mais uma luta comigo mesmo nessa experiência.

O MBA representava para mim uma etapa da escalada corporativa que eu precisava cumprir. Eu sonhava tanto em estar lá que, quando enfim consegui, queria aproveitar ao máximo — afinal, tinha colocado todas as minhas apostas naquilo. Pensava que era a minha grande chance e encarei as aulas de uma maneira muito competitiva. Isso claramente reflete uma falta de maturidade na minha postura, pois em vez de buscar me conectar com os outros alunos, competia com eles. Queria me destacar, tirar as melhores notas, fazer os melhores projetos.

Hoje, com mais maturidade, penso que por um lado o fato de eu ter sido tão competitivo rendeu um efeito positivo, porque me dediquei demais e terminei o MBA entre os top 5 escolhidos pelos professores. Ao mesmo tempo, entendo que perdi algumas oportunidades de me interessar pela história das pessoas e aprender mais com elas. Teria sido muito melhor se eu tivesse conseguido ouvir as diferentes opiniões e processá-las, compará-las, em vez de simplesmente fechar os olhos e impor as minhas. Eu teria aproveitado bem mais.